segunda-feira, 25 de julho de 2016

Festival Internacional do Cacau e Chocolate – 21 a 24 de Julho – Ilhéus, BA - Parte 1


No último post (leia aqui) comentei alguns dos benefícios da valorização de chocolates de origem fabricados na região de proveniência dos frutos de cacau. Tais produtos, além de beneficiar produtores de amêndoas, contribuem para a criação de uma cadeia de geração de valor local promovendo ademais o emprego de mão-de-obra de produção e de profissionais com formação educacional e capacitação elevada como engenheiros e tecnólogos de alimentos, administradores, contadores e designers, entre outros, e de seus serviços qualificados, contribuindo para maior acumulação de renda, arrecadação de impostos e desenvolvimento da indústria, ciência e tecnologia associada à inovação em produtos promotores de desenvolvimento Regional sustentável. 

Outro diferencial positivo é que os produtos finais de marcas que produzem localmente são, geralmente, disponibilizados no mercado Regional, ou seja, são produtos de origem feitos também para a população que vive no local de origem do cacau, a qual deve, por uma questão ética, ter acesso aos produtos finais a partir das matérias primas que nosso Estado produz independente dos demais mercados que nossas marcas de chocolate abracem por questões mercadológicas no contexto nacional e internacional. Pessoalmente acredito que, sobretudo, é importante que em primeiro lugar, os paraenses, amazônidas e suas famílias conheçam, apreciem e divulguem nossos chocolates. Neste contexto, uma das coisas que me deixa bastante satisfeita é ter observado, localmente, um perfil de consumidores altamente informados, que demandam ao mercado produtos de chocolate inovadores feito com matérias primas da Região e produzido localmente. Sim, o paraense e amazônida tem buscado conhecer o sabor da amêndoa de cacau da Amazônia, cultivada em nosso Estado e transformada em chocolates especiais seja em sua forma rústica ou refinada fabricados em seu próprio local de origem e, geralmente, com teores de cacau elevados. Particularmente, nada me deixa mais satisfeita com o trabalho que desenvolvemos do que a absorção de nossos produtos, primeiramente, no mercado local. Produzem chocolates e produtos de origem derivados de cacau amazônico na Amazônia as marcas Amazônia Cacau, Cacauway, De Mendes, Gaudens, Combu Orgânico, NAYAH Sabores da Amazônia e Organolate. Conhece mais alguma marca que realize este trabalho na Amazônia e que deveria estar nesta lista? Me envie uma mensagem para que possa incluir esta informação aqui.  

O post de hoje é sobre iniciativas no Brasil de valorização deste novo segmento de chocolataria fina: a chocolataria de origem, que agrega fabricantes de chocolate da amêndoa ao tablete de procedência conhecida seja uma fazenda, região, estado ou país, com fabricação no local de procedência das amêndoas ou fora dela, o que também é possível dentro da definição da chocolataria de origem e vem sendo desenvolvido também por chocolatiers e fabricantes de chocolate em outros estados Brasileiros não produtores de cacau, assunto para um próximo post. Em nosso país, um dos principais eventos do setor é o Festival Internacional do Cacau e Chocolate de Ilhéus, em sua 8a edição no ano de 2016, o qual ocorreu de 21 a 24 de Julho, e que trouxe este ano dois eventos super importantes: o 1o concurso brasileiro de chocolates de origem e também o 1o curso sobre análise de cacau e chocolate fino promovido pelo Fine Cocoa and Chocolate Institute (FCCI - Instituto de Cacau e Chocolate Fino) liderado pela professora de Harvard Carla D. Martin, com organização da professora Martin, o produtor de chocolates finos Colin Gasko da Rogue Chocolates e a especialista em chocolates Chloé Doutre-Roussel.

Sobre o contexto Amazônico de produção de chocolates de origem fabricados no local de procedência das amêndoas estiveram presentes no festival representantes das marcas paraenses Combu Orgânico (de Izete Costa); De Mendes (de César Mendes) e NAYAH Sabores da Amazônia (de Luciana Ferreira-Centeno e Camila Bastos). Na ocasião, convidamos os participantes do festival a conhecer também o festival de mesmo nome na capital paraense a ocorrer de 22 a 25 de Setembro no Hangar: um convite a ver que vale a pena conhecer o que vem ocorrendo no Pará em termos de avanço do segmento e o grande potencial que oferecemos para o desenvolvimento do setor através de nossos produtos acabados, valorização do conhecimento tradicional de processamento de chocolates e fatores diferenciais da chocolateria de origem amazônica, assunto para muitos posts a seguir.

A partir de hoje vou compartilhar neste blog um pouco da experiência geral do festival da Bahia em Ilhéus com foco no curso de análise de cacau e chocolate fino. O currículo do curso foi desenvolvido pelos organizadores com o objetivo de criar uma metodologia e linguagem comum acerca das definições de cacau e chocolate fino à exemplo de critérios já bem estabelecidos para outros tipos de alimentos, como o café, produto para o qual já existem padrões claros de identificação de cafés especiais além de programas de treinamento para profissionais que visam tornar-se provadores e entidades capazes de realizar a identificação da qualidade do café avaliando, dentre outros, atributos sensoriais como aroma e gosto de forma consistente e reprodutível utilizando léxico comum através de protocolos específicos de aplicação e o uso de referências. A proposta do curso é, iniciar, em conjunto com multiplicadores locais representantes dos diversos agentes da cadeia de cacau e chocolate fino, a criação de meios de classificação de cacau e chocolate fino também de forma consistente e reprodutível utilizando léxico padronizado, aplicação de protocolos específicos e uso de referências. No primeiro dia do curso, a professora Martin palestrou sobe a história e cultura do cacau e chocolate e o fabricante de chocolates Colin, da Rogue chocolates palestrou sobre o processo de fabricação de chocolates da amêndoa ao tablete. Por fim, iniciamos o treinamento na identificação de defeitos em amêndoas de cacau através de teste de corte recebendo orientação dos instrutores. Na parte prática da aula do dia 21 avaliamos amêndoas de cacau de Gana, Peru e Honduras com fermentação e secagem propositalmente problemáticas para intensificação da percepção de ocorrência de defeitos. Na metodologia proposta pelos organizadores do curso, um quociente qualitativo deve ser calculado para as amêndoas com base no teste de corte realizado envolvendo a identificação de amêndoas através de estabelecimento de nota para a classificação de amêndoas de cacau fino. Em seguida, a metodologia propõe o preparo de amostras através de um protocolo simples para a identificação preliminar de defeitos e propriedades organolépticas das amêndoas proporcionando informação rápida sobre o potencial de uso das mesmas para a fabricação de chocolates finos.

Abaixo, uma foto dos representantes das marcas paraenses produtoras de chocolate de origem no festival no estande da Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Agricultura e da Pesca (SEDAP), no qual expusemos nossos produtos acabados de chocolataria de origem para divulgação do Festival de mesmo nome a ocorrer em Belém de 22 a 25 de Setembro no Hangar.

José Carlos (SEDAP), César Mendes (DeMendes), Izete Costa, a Dona Nena (Combu Orgânico) e Luciana Ferreira-Centeno (NAYAH Sabores da Amazônia) no estande da SEDAP no 8o Festival Internacional de Cacau e Chocolate de Ilhéus, BA

Nos próximos posts, falarei um pouquinho mais do curso, do evento em ilhéus e perspectivas para o evento em Belém. Até breve!

sábado, 16 de julho de 2016

Chocolataria de Origem e Desenvolvimento Regional Sustentável

O que me motivou a escrever hoje foi a leitura do artigo da The Chocolate Journalist Sharon Terenzi, sobre a dificuldade encontrada por chocolatiers e chocolate makers no fornecimento regular e confiável de amêndoas de cacau fino, a matéria prima para chocolates de qualidade superior para a qual o mercado está disposto a pagar um valor premium. Você pode conferir esse artigo super interessante completo aqui: http://thechocolatejournalist.com/the-best-way-to-source-fine-cacao-in-2016/. Sobre as razões que tornam essa tarefa particularmente difícil do ponto de vista do local de produção do cacau eu escreverei um próximo post. Gostaria apenas de registar a seguinte contribuição considerando o momento do mercado de cacau fino no Brasil e, particularmente no Estado do Pará:

A chocolateria de origem tem, para além de remunerar com valor justo produtores de amêndoa de cacau de qualidade superior, a capacidade de empoderar comunidades, produtores, empregar profissionais locais, aumentar a diversidade de produtos e disponibilidade destes produtos mesmo no mercado local, além de sua inserção em mercados externos contribuindo para o aumento da arrecadação de impostos e desenvolvimento da indústria, ciência e tecnologia associada à inovação em processos e produtos com maior valor agregado que as matérias primas. 

Fico muito feliz quando vejo um grande chocolatier internacional ou uma grande marca de chocolates utilizando o cacau brasileiro em seus produtos, ainda mais se pagam um preço premium pela nossa matéria prima. Tudo isso é importante para a valorização do nosso cacau no mercado (e muito! Assunto que também rende um post exclusivo). 

Agora, feliz mesmo eu fico com o florescimento do nosso mercado de chocolateiras de origem no Brasil e, particularmente aqui no Pará, representando o chocolate produzido na Amazônia Brasileira. São produtores rurais e empresas que produzem aqui o chocolate feito com nossas amêndoas, criando relações éticas com nossa gente, contando suas histórias, e comendo junto o delicioso chocolate feito em parceria, que carrega o  sabor do nosso solo, as nuances do nosso clima, nos fazendo viajar em uma deliciosa experiência sensorial de sabores, saberes, pessoas, emoções e sensações singulares. 

Esse é o maior potencial do cacau fino de origem. Valorize os sabores da sua terra, nosso cacau, feito pela nossa gente! Pode ter certeza que comer chocolate nunca vai ter sido tão gostoso! 

#chocolatedeorigem #chocolatedeverdade #chocolateetico #desenvolvimentosustentavel  #cacaudopara #chocolatedopara #nossocacauechocolate


domingo, 10 de julho de 2016

Nosso Cacau e Chocolate


Cacaueiro em Medicilândia, PA

Este blog visa contribuir para o despertar de interesse sobre chocolataria de origem no Brasil e com o compartilhamento de informações e esclarecimentos relevantes sobre o tema, com foco especial para o chocolate de origem da Amazônia Brasileira, sobretudo em relação ao Estado do Pará, onde atuo.

O nome do blog, Nosso Cacau e Chocolate, vem da identidade criada com produtos produzidos a partir de matérias-primas e mão de obra locais em seu lugar de origem. Como é bom valorizar o que é nosso!

A sugestão de temas é muito bem vinda. Delicie-se com Nosso Cacau e Chocolate! :)